Carro pelado está com dias contados

Carro pelado está com dias contados

 

Com simplificações das gamas de produtos, o carro ‘pelado’ sai de cena

 

Volkswagen, Toyota e Fiat estão entre as marcas que simplificaram uma ou diversas de suas gamas de produtos recentemente no Brasil. Seja reduzindo o número de versões ou a oferta de combinações (entre cores, motores, equipamentos, etc), as montadoras deixaram suas linhas mais enxutas. Entre os modelos que já passaram pelo processo estão Fiat Uno, Toyota Etios e vários hatches da Volks (confira detalhes abaixo). Além disso, o carro pelado é cada vez mais raro.

Essas simplificações visam, entre outras razões, evitar o fenômeno conhecido como “canibalização” – quando um modelo rouba clientes de outro da mesma marca. “Todo mundo ganha dentro da cadeia de produção: montadora, concessionária e consumidor”, afirma o vice-presidente de vendas e marketing da Volkswagen do Brasil, Gustavo Schmidt.

De acordo com ele, atualmente todos os carros da marca saem de fábrica com ar-condicionado e direção assistida. “Vimos que o brasileiro não aceitava mais veículos sem esses equipamentos (o chamado carro pelado)”, explica o executivo. “Isso melhora a relação custo-benefício do carro, pois, com o ganho de escala, esses itens ficam mais baratos.”

“Quanto maior é a escala de produção, melhor é o custo do componente”, concorda o consultor da ADK Automotive, Paulo Roberto Garbossa. O especialista diz que a simplificação da gama deixa a cadeia de produção mais ágil, o que também contribui para reduzir custos. Essa economia, teoricamente, pode se refletir nos preços dos produtos finais, os veículos. Na prática, isso não vem ocorrendo.

Menos versões

Com o enxugamento das linhas, o cliente tem menos opções à disposição na hora de configurar o veículo, além de não contar com as antigas versões mais simples e também mais baratas.

O Up!, por exemplo, deixou de ser um carro pelado. Em maio, a versão de entrada partia de cerca de R$ 40 mil. Agora, parte de R$ 51.290. Ou seja: ficou mais caro que as configurações de entrada de Fox e Polo, que partem de, respectivamente, R$ 49.990 e R$ 50.670.

“Refizemos o posicionamento de mercado de nossos hatches, deixando mais claro para que tipo de público cada um é voltado”, afirma Schmidt. A partir de R$ 44.990, o carro de entrada da VW voltou a ser o Gol. “O Up! passou a ser voltado a um cliente de maior poder aquisitivo”, diz o executivo. “Em muitos casos, o Up! é o segundo ou terceiro carro da família.”

Entrega rápida

Schmidt complementa que, graças à maior agilidade na cadeia produtiva, o prazo de entrega foi reduzido. “Além disso, quase sempre a concessionária tem o carro que o cliente quer disponível para pronta entrega.”

Outra vantagem da simplificação das versões da gama de hatches da Volkswagen apontada pelo executivo é o melhor valor no momento da revenda. “As versões usadas mais valorizadas sempre foram as mais bem equipadas”, explica. O carro pelado sofre maior desvalorização.

Simplificações

Quando lançou o Mobi no País, há dois anos, a Fiat fez alterações na gama do Uno, que era até então seu carro de entrada. Agora, ele também deixou de ser um carro pelado.

Hoje, o Uno mais em conta, tabelado a R$ 42.990, já vem com o motor 1.0 de três cilindros, ar-condicionado e direção assistida, entre outros itens.

Com isso, o novato se distanciou do veterano. O Mobi, que mantém o defasado 1.0 de quatro cilindros na versão de entrada, parte de R$ 35.690.

Também para evitar canibalização, o Etios (hatch e sedã) perdeu as versões mais caras. Para os clientes dessas configurações, agora há o Yaris, também com duas opções de carroceria.

Na Volkswagen, a simplificação foi mais extensa. Começou com o Fox. “Ele tinha 385 combinações possíveis. Agora, só há 15”, diz o vice-presidente de vendas e marketing da Volkswagen, Gustavo Schmidt. O modelo passou a ter só duas versões, Connect e Extreme, esta para atender o perfil de clientes do CrossFox, que saiu de linha.

O Golf também perdeu versões. Saíram de cena a 1.6 e a 1.0 turbo com câmbio manual. Agora, para a 1.0 só há automático.

Outros que foram simplificados são o Gol e o Voyage. Hatch e sedã têm 30 combinações possíveis, ante as cerca de 300 da linha 2018. Por outro lado, passaram a ter versão automática.

A chegada do Virtus e do novo Polo contribuiu para esse reposicionamento. Schmidt diz que com isso a marca reduziu o risco de canibalização principalmente entre Polo e Fox.

Sai carro pelado, entra custo-benefício

“As marcas japonesas sempre tiveram poucas versões no Brasil”, diz o consultor da ADK, Paulo Garbossa. “A Chevrolet, então, também decidiu aderir à prática, e passou a entregar bom custo-benefício.” Para o especialista, a simplificação de gamas é um grande acerto.

Líder de vendas no País, a Chevrolet foi a primeira grande fabricante local a ter menos versões, reduzindo a oferta de opcionais. Isso permitiu melhorar a relação preço-equipamentos.

Um bom exemplo é o comparativo entre os hatches Golf e Cruze Sport6. Antes de ter sua gama simplificada, o Volkswagen tinha versões 1.6 e 1.0 turbo com câmbio manual, tabeladas a pouco mais de R$ 70 mil.

Na mesma época o Chevrolet partia de mais de R$ 90 mil. Porém, já vinha com motor 1.4 turbo, câmbio automático e vários recursos eletrônicos. Um Golf com o mesmo nível de equipamentos do Cruze Sport6 custava cerca de R$ 100 mil.

Outra estratégia para simplificar a gama é oferecer itens como acessórios vendidos pelas concessionárias. “A Chevrolet já fazia isso com os vidros elétricos do Celta”, diz Garbossa.

O novato Yaris não traz central multimídia na versão de entrada – o item só vem de série a partir da configuração intermediária. Mas pode ser instalado nas autorizadas da Toyota.

O mesmo ocorre com as versões T4 e T5 do XC40. Nas concessionárias Volvo, o sistema semiautônomo de condução, que vem de série nas configurações de topo, sai por R$ 5 mil.

A vantagem de instalar “acessórios de fábrica” na rede de concessionárias é manutenção da garantia total do veículo.

Fonte: Jornal do Carro